domingo, 15 de novembro de 2009

O presente - Puccamp

Uma semana antes de meu aniversário, eu o conheci. Aproveitei-me do fato para lhe dizer o dia em que nasci; não sei porque fiz isso, mas um lado extremamente consciente de mim pediu, e eu o fiz.

A partir desse momento, uma semana já não era mais sete dias seguidos. Uma semana era um, dois, infinitos pensamentos. Era um virar e revirar de idéias, ilógicas, sem início, pois não sei onde começa algo que ainda não conheço. Muito menos sei onde termina, se é que termina.

Uma semana voou, mas também, demorou. Uma semana foi só de riso, alegria, lágrimas e incertezas. Houve centenas de tomadas de fôlego, milhares de piscadas de olhos. Algumas horas impróprias dormindo, algumas horas próprias, acordada.

Imaginei todas as pessoas de quem eu provavelmente iria receber um presente. Entre elas, ele.

Tinha noção de todos os possíveis presentes, mas havia um inimaginável. Um presente de um remetente semi-desconhecido, para uma destinatária semelhante.

É tão difícil saber o que se passa dentro do nosso próprio universo...imagine fora.

Perguntei a mim mesma o que era um presente, o que isso significava. Respondi, sem pensar muito, que era um símbolo de carinho e afeição, de amor e amizade.

Definição bem contraditória, conclui.

Por várias vezes, eu mesma ofereci um presente sem nenhum significado especial, sem absolutamente nenhum sentimento mais profundo. Compreendi que em vários momentos me vali de um bem material para dizer absolutamente, nada. Lembrei-me de que muitos presentes que eu havia ganho ao longo da vida, pudessem ter esse mesmo teor, tão desvalorizado por mim agora.

Pensei em como um ato tão bonito, de repente pode se tornar uma coisa tão vazia, nua e crua.

Desejei um presente abstrato.
Um sorriso, um carinho, um abraço.
Uma palavra, um olhar, um gesto.
Uma hora no relógio.
Um dia no calendário.
Quis ser um número de telefone decorado.
Um espaço no pensamento de alguém e por um segundo, ser parte integrante da vida de outra pessoa. Mesmo que desconhecida.
Ser lembrada, quando ausente. Fazer falta, quando longe. Quis ser parte de um todo, o buraco que dá sentido à agulha.
Novamente uma semana voou e demorou.
Sem tempo, sem espaço.
Com sofrimento e suor.
Com ansiedade e porque não, dor.

Como pôde a expectativa por um presente, fazer-me imaginar, fazer-me esperar, levar-me ao meu próprio abismo, fazer-me julgar e ser julgada, jogar-me a sós com os meus leões, solitária nos meus mais profundos desejos, fazer-me ciente de minhas limitações?

O sétimo dia chegou.

Entrei na sala de aula, sentei-me. Abri o caderno. Ele chegou, sentou-se ao meu lado. Pegou o meu caderno, e em uma página usada, eu ganhei o meu presente, em letras lumicolor:

PARABÉNS!!

Ele assinou, datou e acabou-se.

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