À medida em que caminhava pela rua, recordava-se de que havia três motivos para que fosse tão longe. Talvez o medo, a solidão e a timidez não fossem tão agudos quanto ela os imaginava. Mas, bastavam.
Doía. Ela tinha ansiedade em se esconder no subconsciente de seu universo, por detrás do muro, onde ninguém a visse. Passou um menino correndo, mas ela não olhou. Havia um parque e nele, vários casais drogados caídos no chão. Teve inveja. Se ao menos tivesse coragem...
Entrou na casa, despiu-se. Preparou-se com capricho. Um vestido que era um sonho, um brilho incontido nos olhos, os mesmos olhos angustiados de antes.
Pegou a agenda de telefones em branco e gritou bem alto o seu próprio nome, para sentir a emoção de ser chamada por alguém. Abraçou o próprio corpo, imaginando-se nos braços de um homem amado que nunca existiu. Afagou o bicho de pelúcia guardado para o filho que nunca teve.
Estava pronta.
O gato esgueirou-se ao ouvir o baque surdo de seu corpo.
O Jornal Nacional anunciava tempo bom para o dia seguinte.
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