segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Ushuaia - Viagem ao fim do mundo em 2 rodas - dez/2011 a jan/2012



APÓS 6.000 KM RODADOS, MINHAS 10 LIÇÕES APRENDIDAS:

1. TUDO O QUE PRECISO ESTÁ DENTRO DE MIM: passei frio, calor, tomei chuva, tive dores, coceiras, medo de cair e medo do vento. A única opção era seguir em frente. Manter a serenidade e paz interior independe do que está acontecendo no mundo externo. Tudo o que preciso está dentro de mim. O que é de fora só me abala se eu assim o permito.
2. O QUE EU SOU INDEPENDE DO QUE EU PAREÇO SER: Passei 15 dias com as mesmas 2 roupas. Limpas, porém, as mesmas. Sem esmalte, com a cutícula parecendo uma couve-flor, com a pele queimada pelo frio e descascando, os cabelos secos de manhã e oleosos à tarde devido ao capacete, embaraçado e quebrado por causa do vento. Sem bolsa, no começo não sabia nem onde colocava as mãos, se punha nos bolsos, se deixava soltas...parece bobagem, mas para uma mulher, é um exercício de desapego e tanto. Experimente sair para jantar com a calça suja , o cabelo oleoso e a blusa molhada de chuva e não sentir nem um pouco de vergonha. 
3. QUANDO AS COISAS NÃO ESTÃO SAINDO DA FORMA PLANEJADA, CONTROLE-SE: quantas vezes quando chegava em alguma cidadezinha e não achávamos hotel, eu, suada, cansada, com o saco na lua, queria culpar o piloto, tipo: “tá vendo no que vc me meteu? “, até eu me lembrar no segundo seguinte de que estava lá por livre e espontânea vontade e que ele tanto quanto eu, estava suado, cansado e com o saco na lua. Na nossa vida cotidiana, profissional, é assim também! Quando as coisas apertam, o impulso do ser humano é arranjar um coitado pra descontar a frustração ou colocarmos a culpa!
4. SEMELHANTES ATRAEM SEMELHANTES: como disse o nosso amigo Osvaldo Coni: “Este é o tipo de viagem que não se explica - para quem gosta de moto, não precisa explicar; para quem não gosta, não há explicação que baste". Todos de moto na estrada , se cumprimentam. Muitas vezes param para conversar como se fossem velhos amigos. A forma de puxar assunto sempre é a mesma. Por trás disso, há o inconsciente coletivo que rotula: “ se o cara gosta de moto, deve ser um cara legal” . Assim também o fazemos na vida. Gostamos de nos aproximar das pessoas que tem os mesmos gostos que nós, que são da nossa tribo. E algumas vezes achamos os outros caretas por jamais se arriscarem num negócio desses, esquecendo que eles por sua vez, podem ter as próprias tribos e nos acharem loucos. A rotulagem quase sempre é totalmente sem fundamento.
5. ARGENTINOS SÃO LEGAIS: Como boa brasileira, eu engrossava o time dos que suspeitavam dos hermanos. Isso se deve muito à rivalidade no futebol e assuntos afins. Contrariando todas as previsões, fui muito bem tratada em TODOS os lugares por onde passei, em todas as interações humanas que tive, com pessoas de todas as classes sociais e etnias. Mais do que tratar bem, a maioria das pessoas vai além e supera expectativas. Não tive em momento algum MEDO de agressão, de ser assaltada, roubada, passada pra trás (coisas que talvez teria em viagem dentro do nosso próprio país). Não é porque tenho parentes lá e eles estão lendo isso também, mas eu mudei completamente de opinião, virei casaca mesmo. Argentinos são um povo maravilhoso.
6. O PODER DO AGORA: estar 100% no agora é o exercício mais desafiador. Estar e FICAR naquele momento único, vivendo aquilo com toda a intensidade e plenitude foi para mim o maior teste. A mente insiste em ir para o passado e o futuro. 
7. DESAPEGO DAS PESSOAS: quando o nosso filho diz que não sentiu saudades, significa que o que importa já está dentro dele (amor) e que sentir ou não saudades não tem nada a ver com amor. Isso vale para nós também. 
8. PESSOAS BUSCAM CONFORTO DURANTE 100% DO TEMPO E O RECLAMADOR PROFISSIONAL : se está frio, queremos calor. Se está calor, queremos frio. Se chove, queremos que pare. Se está seco, reclamamos do pó. Se, se, se, se....é muito fácil cair no ciclo de reclamações sem parar. E daí, virar um reclamador profissional, atraindo para si sempre mais daquilo que quer evitar. E assim continuar o ciclo de reclamações e frustrações, retroalimentando esta “doença” contagiosa que tanto mal faz às pessoas.
9. AGRADECER SEMPRE: pela oportunidade de poder fazer o que quero, à mãe e sogra que ficaram rezando todos os dias para não cairmos da moto, aos irmãos que ajudaram com o filho, a casa e os negócios, aos colegas de trabalho que tocaram os projetos em frente , à vizinha que cuidou dos cachorros nos finais de semana, ao filho que se comportou bem na casa dos tios, aos parentes que me receberam de braços abertos sem nunca ter me visto antes, por não ter caído, por não ter passado mal nenhum dia, por ter tantas bênçãos diariamente e capacidade de percebê-las.
10. ESTAR EM DIA COM A SAÚDE MENTAL, EMOCIONAL, ESPIRITUAL E FÍSICA: para viver plenamente todos os milagres, belezas, sensações, emoções, trocas, impressões, sincronismos do dia-a-dia. Não é preciso viajar para exercitar tudo isso. A grande viagem é conseguir fazer isso no dia-a-dia. 

Um comentário:

  1. Adorei o texto!
    Eu nunca faria essa viagem de moto.
    Parabéns para o casal que enfrentou o inferno e o céu no mesmo dia.
    Beijos

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